Opinião | “O Último Dia de um Condenado”, de Victor Hugo



Nos últimos tempos, a França tem passado por dias difíceis, numa luta que não tem fim à vista. Não é algo que já não se tenha verificado antes na história da Humanidade.
As questões sociais sempre tiveram grande importância para este autor, por isso quero convidar-vos para viajar comigo até ao ano de 1802.
Nesse ano, nascem dois dos maiores escritores franceses de todos os tempos, que se tornaram ícones da literatura universal:
Por um lado, Alexandre Dumas, autor de obras como “Os Três Mosqueteiros” e “O Conde de Monte Cristo”.
Por outro, Victor Hugo, autor de “Os Miseráveis”, “Os Trabalhadores do Mar”, “Nossa Senhora de Paris”, adaptada pela Disney com o título de “O Corcunda de Notre Damme” e ainda “O Último Dia de um Condenado”.
Apelidado de”L’homme-siècle” ou “homem-século” devido a ter vivido quase todo o século XIX, Victor Hugo foi poeta, dramaturgo, romancista, político e activista dos Direitos Humanos, falecendo aos 82 anos de idade em 1885.
Sempre muito interventivo e exprimindo sempre a sua opinião sobre tudo o que se passava na sociedade da sua época, esteve ligado a todas as grandes questões, quer sejam teatrais ou políticas.
Em 1822, visita um castelo medieval transformado numa prisão no século XVII. Foi nesta prisão que foi testada pela primeira vez, a máquina de cortar cabeças do Dr. Guilhotin, mais tarde conhecida como guilhotina, e onde Victor Hugo se inspirou para escrever “O Último Dia de um Condenado”.
A edição que tenho faz parte da Biblioteca de Verão do Jornal de Notícias e foi publicada em 2010.
Nesta novela de apenas 95 páginas, Victor Hugo crítica fortemente a pena de morte, com um propósito deliberadamente político.
Originalmente foi publicada em 1829 de forma anónima, quando ele tinha apenas 27 anos.
Segundo o autor, existem duas formas de considerar a existência deste livro:
Ou realmente existem um conjunto de papéis amarelados onde foram registados, um a um, os últimos pensamentos de um miserável;
Ou houve um homem, um sonhador ocupado em observar a natureza em proveito da arte, um filósofo, um poeta, quem sabe, para quem tal ideia foi uma fantasia que o tomou, ou melhor, que se deixou tomar por ela e não pôde desembaraçar-se, senão lançando-a num livro;
Desta forma, ele deixa ao critério do leitor, a escolha da opção que preferir…
“Condenado à morte!
Há cinco semanas que vivo com este pensamento, sempre só com ele, sempre gelado pela sua presença, sempre curvado sobre o seu peso!”
Assim começa o livro, introduzindo o leitor logo no tema central, a partir do qual e por meio de um diário escrito e narrado por um jovem condenado, Victor Hugo parte para a exposição e defesa da sua opinião sobre a pena de morte.
Nesta espécie de monólogo interior, acompanhamos os seus pensamentos, angústias, dilemas, reflexões, estados de espírito, o sofrimento físico e, por vezes, o renascer de alguma esperança na sua libertação em alguns momentos.
O facto de nunca nos ser revelado o seu nome e o crime que cometeu para ter sido condenado a tão pesado castigo, reforça a ideia que ele representa todos os condenados, independentemente do crime que cometeram e da sua própria história.
Sabemos também que antes da condenação,ele era um homem como qualquer outro, tinha liberdade de pensamento e era livre:
“Em outros tempos - porque me parece que os anos e semanas se têm passado - eu era um homem como qualquer outro. (...) Na minha imaginação vivia uma eterna festa. Eu podia pensar no que queria, era livre.”
Há outra coisa que é importante salientar:
Em nenhum momento, o autor quer fazer passar a ideia de que o jovem condenado é inocente e que não merece ser punido. Apenas não concorda que ele seja executado com recurso à guilhotina.


Nenhum comentário:

Postar um comentário